29/03/2018

SOBRE QUEM EU VEJO






Queria escrever, falar, contar histórias sobre você, mas não existe mais tempo, é complexo te ver, tentar te entender, enquanto você ler já não existo mais, nem sei se você lembra de mim, se tem uma foto ou mesmo uma imagem minha em sua mente tão ocupada e acelerada, eu era ingênuo, você é totalmente astuto, eu era simples, você tem um monte de manias estranhas, eu era calado, você fala, acho que até demais, eu era tímido, você é um disfarce, eu ria, você quer produzir graça, eu não entendia, você quer saber de tudo até o que não te interessa, eu não me entendo com você, não sabia que você ia chegar onde você chegou, queria te perguntar como é ser tudo o que você agora é e mais o que pensam de você? Eu não projetei seus estudos, eu não projetei seus escuros, eu não projetei seus romances, eu não projetei seus sorrisos, eu não projetei o seu trabalho, eu não projetei seu estresse, quando foi que você deixou de me consultar? Quando foi que soltamos as mãos? Lá atrás tudo começou, tudo foi passando, agora somos tão diferentes, tão distantes, ah... se ao menos um dia eu tivesse a chance de sentar diante de suas retinas, ouvir sobre sua rotina, com certeza te faria algumas simples perguntas, mas não sei se nos entenderíamos, acho que não mudei tanto, mas você... como é diferente, você está em outro lugar, em outro ambiente, com outra roupa, com outras pessoas, você tem barba, você está careca, você até tem carro e um outro cachorro, você fala de dinheiro, de sucesso, de conseguir dar certo, de mudar o mundo e ainda tem tempo pra perguntar se é feliz, eu não... não tinha nada disso e tinha certeza que era feliz, você sofre, corre atrás de tudo aquilo que você já tem, mas vive dizendo que foi o que sempre quis, eu era pequeno, você é uma presença marcante e ainda diz que é diferente, eu esperava pra ficar com meus amigos, você não sente saudade, cada ano que passava eu festejava, você acha aniversario programa brega e ver a chance do falso se revelar, em noite de Réveillon eu esperava o sol nascer com os amigos na calçada, você, até mal no dia 31 passou, eu tinha pai e mãe, você não tem pra quem estender a mão, eu tinha horário pra chegar em casa, você detesta cumprir horário, se sente aprisionado, eu ia e vinha, você só sabe dizer que precisa de dinheiro senão, nem dá pra ir, eu dizia e ria, pois tudo era “zoação”, você agora discute o politicamente correto, a minha rua ainda é a mesma; as pessoas para você... não; eu tinha certeza que gostava e as pessoas gostavam de mim, já você...
Eu falava para o coração, conversava com meu cachorro lá na casa dele, no fundo do quintal, você provavelmente está expondo nossa conversa para todo mundo nessa tal internet, site, blog ou rede social. Eu sempre quis te avisar, falar com você, mas nos perdemos um do outro com o passar do tempo, não sei quando você me esqueceu, só sei que fiquei pra traz e você cresceu, claro que você não errou em tudo, mas se me ouvisse poderia ter sido melhor, não acha? Não sou arrogante, petulante, intrometido, mas se você tivesse me ouvido... Mas sempre podemos melhorar. Nosso encontro nunca vai poder acontecer, mas é simples de me ver, eu sempre vou estar aqui, eu sempre vou ser você, um pedaço da sua vida, da sua história, do seu passado, quem cresceu foi você, se agora tem que dar certo, me desculpe, mas essa parte ficou pra você.


Paz e Rock and Roll


Esse é um daqueles textos que você é inspirado a escrever quando alguém está discutindo com você e dentro dessa discussão psico-nostálgica-devaneadora-empreendedora (kkkkkkkkk claro que essa palavra louca não existe) é feita uma abordagem, do tipo: Você já pensou em escrever sobre como seria você adolescente/criança conversando com você agora? Você ainda é o mesmo?
Texto inspirado na ideia da amiga Profa.Aline Chagas. 




22/03/2018

ENQUANTO ISSO, O MEDO ME ACOMPANHA!!!





As histórias contadas e vividas não causam medo, não causam assombro, guardamos apenas boas e más lembranças, as vezes resolvemos até nutrir saudades, mas... o caminho trilhado, o futuro que não se sabe ao certo mas vive sendo planejado, a incerteza do saber se certo ou errado, sucesso ou fracasso, vida ou morte, amar ou ser esquecido, ter ou ser, esses são alguns dos capítulos da próxima história... mesmo assim tenho minhas dúvidas, considero questionáveis as possibilidades de produção do medo diante desses cenários. Mas e o agora? Nele é sempre agitado, o agora é sempre uma possibilidade produtiva ou desastrosa, é um planejamento singular, fugindo do que passou, tentando acertar no que ainda não se sabe como será, é o abismo entre ontem e o amanhã, o que estou fazendo agora? Onde estão as minhas mãos? Onde está meu pensamento? Onde estão os meus pés? Perto de onde e longe de que? O que está sendo produzido dentro do meu coração? É aqui e agora que vejo tudo, que monto tudo e me desmonto todo, que me deparo com a montanha que me desafia em escalar, me deparo com o muro que me diz que consegue me separar, que me deparo com uma mão em meu peito tentando me segurar, não me deixa levantar, não me deixa caminhar, o agora é aterrorizante! Quando olho para os passos que me levam em círculos e estacionam no mesmo lugar, o coração bate, o sangue aquece, a raiva entra sem pedir licença aos meus olhos, dissolve minha coragem, minhas ideias, criatividade estilhaçadas como o melhor e mais fino cristal, desespero agonizante, sufocante, uma dor no peito aprisionada para não gritar. Os desafios estão postos na mesa, diante dos meus olhos e do meu nariz, sinto o cheiro da desistência, da dormência, por mais alguns minutos sinto-me preso na impotência, estou preso? Fui capturado, amordaçado com o arame farpado da minha própria consciência, certeza irrelevante de um anseio produzido pela impaciência. O medo também produz a paralisia, a idiotice, a babaquice, a ausência de fé, a tolice de que apenas mais um dia parece ser maior que a eternidade. Estagnar é pior do que se decepcionar com o que foi feito e fracassou, as alternativas de sucesso não estão no agora, mas sim dentro do seu trabalho árduo, da coragem de acessar na reverberação continua do futuro, de trilhar o caminho escuro (a fé é isso), a vó da menina já dizia “Coloca o medo debaixo do braço e siga”. Viver é o risco, a vida é o perigo, parar é o acidente incapacitante, prevenção é não desistir, saber que não posso ter medo de saber que sinto medo, saber o gosto do não, mas não porque você é incapaz, mas... só e somente só agora... que você consegue produzir o amanhã através de sua fé.


Paz e Rock and Roll

15/03/2018

COMO AMAR?







Queremos amar? Queremos amor? Se conhecemos só uma parte da verdade? Se o que sabemos é apenas o que contam? O que falam, é do ponto de vista que é conveniente, insuficiente, arrogante e deprimente, é sempre incompleto, inquieto, assustador sentir o cheiro da dor, o mais alarmante é que, não posso mais pensar simples, não posso achar que tudo deve ser para todos, agora é necessário, obrigatório pensar só para um lado, mas que lado? Se do lado que estou sempre estou errado, pois o outro lado reivindica a sua parte e possibilidade de dor, o meu amor. Mas que amor é esse? Que país é esse? Fico a imaginar, refletir, tentar enxergar em que terra estou pisando, não podemos mais sentir pelo outro, pois a dor daquele é maior, mesmo que ainda não esteja acontecendo, eu preciso me importar mais com o provável do que com o evidente. Isso me faz sofrer, perder a noção do que é entender. Entender que o amor nunca desiste, que o amor não quer o que não tem, não é na base do “eu primeiro”, não contabiliza o erro do outro, não festeja enquanto o outro rasteja. Queria tanto ver com clareza, mas me encontro em um nevoeiro, tateando o toque gélido da neblina, mas o coração bate, o sangue corre, muita das vezes inocente nas calçadas, não é pobre, não é rico, branco ou preto é gente como a gente que já está cansada de tanto desrespeito com a gente, minha gente presta atenção é nossa própria gente, que está se matando, dando mais valor ao terror  do que ao amor, é insuportável ver a desilusão plantada dentro do coração, a ausência da certeza que pode dar certo, mas enquanto a perfeição não chega, tento me sustentar na confiança, na esperança e no verdadeiro amor, sem fronteira, sem partido, sem cor, que respira por aparelhos, que saboreia o gosto da dor, mesmo que a vida seja um relógio sem despertador e perca a noção do tempo que ainda me resta, vou preferir caminhar pelas ruas, escolher um banco na praça, sem uma julgamento, oferecer o que me resta. Espero que você aceite o meu amor.

Paz e Rock and Roll

08/03/2018

ENQUANTO EU CHEGAVA





Enquanto eu chegava, dirigia e cantava,
Enquanto eu chegava, via e sentia uma agonia,
Enquanto eu chegava, simplesmente pela janela eu olhava, via, sentia, percebia, enquanto eu via que em minha caminhada o que eu tinha que mudar era o meu olhar, claro que perguntava: como posso ser melhor? Mudar minha mente, olhar além, onde, como, quem?
Mais uma vez pela janela eu olhei e vi um senhor precisando atravessar a rua, resolvi parar, ele atravessou, olhou pra mim e acenou, me emocionei, por mais alguns metros continuei a me emocionar, quando vi a moça que andava apressada para ir trabalhar, me emocionei quando vi as duas amigas que caminhavam, riam, se divertiam enquanto iam para aula, me emocionei quando via o senhor com idade avançada que resolveu carregar um garotinho nos seus fracos e cansados braços, me emocionei quando olhei pra um lado vi uma foto de uma moça lendo um livro de estatística aplicada e logo em seguida do outro lado a foto de uma cãozinho deitado do lado de um gatinho, me emocionei quando vi um rapaz cumprimentar o outro e em seguida dar um abraço, a moça que ia pra academia, o rapaz que caminhava e fazia cara que ainda dormia, a mamãe que empurrava o carrinho com seu bebê, o sinal que fechava e um multidão pela faixa de pedestre atravessava, para onde eles vão? Quem eles são? É apenas meu olhar na multidão, quem vai me perceber? Já estou quase lá, mas ainda não cheguei, quem me conhece? Quem te conhece? A gente pode ser melhor?
Mais uma vez lembrei que na caminhada temos que entender que é nosso olhar que tem que mudar, não importa o que de mim e de você vão pensar. Seja melhor, fique mais leve, acorde, acredite, olhe para o improvável, veja logo ali o que você sonha, respire mais uma vez e mais uma vez se levante. Agora estou chegando, mas antes parei rapidamente para uma lagrima correr, de alegria provavelmente.


Paz e Rock and Roll