O tempo passa, não para, o mundo gira, vira a cara, virei mais
uma esquina, no final do quarteirão e olha com quem encontrei... exatamente...
o meu espelho que constantemente tem e quer falar algo pra mim, poxa, como ele
é chato, nunca deixa eu falar, ele sempre tem assunto pra preencher todo o
tempo e espaço, mas dessa vez achei ele mais chato, muito estranho, ele parecia
não querer falar de mim, mas começou a contar muitas de suas próprias histórias,
uau, como senti na pele a sensação ácida do seu orgulho que saltava das suas
palavras adocicadas e soberbas, me fazia pensar como já tinha feito tantas
coisas, estudado tantas coisas, quantas habilidades, quanta capacidade, quanto
talento. Até onde ele vai? Onde ele quer chegar? Vamos celebrar, cantar, gritar
pelos quatro cantos dessa terra envolvida em uma angustiante aridez, não
consigo perceber a raiz do orgulho, mas enxergo a sua desnecessária vontade de
sobrevivência sobre todas as coisas.
Mas do que realmente posso me orgulhar? Imagino que orgulho seja
um tipo de vinho refinado que você escolheu ou mesmo uma comida extremamente
agradável ao paladar, mas aquela comida que fui buscar, não penso que posso me
orgulhar do que tenho, do que sei que sei fazer, das minhas habilidades, dos
meus talentos. As minhas decisões me constroem ou destroem, sei que minhas
atitudes valem meus sonhos, os meus motivos declaram a minha essência, reconheço
que ter habilidades, conhecimento, capacidades, me empurram até a ponte das
minhas decisões, se posso pensar em poder me orgulhar, me orgulharia das minhas
decisões pois, mas importa por que faço do que o que faço. Depois da ponte pode
não existir sucesso em minha escolha, mas o sucesso ou insucesso chegará inevitavelmente
pelo simples poder de decidir. As minhas habilidades ou talentos me impulsionam
para o outro lado da ponte, mas as minhas decisões é quem permite nascer do
outro lado da retina o vasto campo das possibilidades. Tudo se traduz e se produz
logo após a travessia infinita da minha ponte, que por um gesto de muito
carinho e gratidão costumo chama-la de minha querida vida.